segunda-feira, 24 de junho de 2013

Trajano Ribeiro, em missa para Brizola no Rio, analisa manifestações de rua

Os nove anos da morte de Brizola foram lembrados na última sexta-feira (21/6) no Rio de Janeiro com uma missa na Igreja de São Benedito dos Homens Pretos, na Rua Uruguaiana, no Centro do Rio de Janeiro – igreja frequentada pelo próprio Brizola - em uma solenidade marcada pela direção do PDT-RJ para lembrar a data.
Estiveram presentes companheiros de partido, dirigentes do PDT-RJ e também muitos militantes do partido – veteranos de várias campanhas lideradas por Leonel Brizola no Rio de Janeiro, desde a sua espetacular eleição a deputado federal em 1962, aos dois governos estaduais que conquistou, nas eleições de 1982 e 1991, além de todas as outras campanhas que protagonizou até nos deixar, em junho de 2004. Um dos presentes foi o deputado Bruno Correia.
Os participantes da missa – Carlos Lupi, presidente nacional e estadual do PDT não pode participar por ter viajado para São Borja, também para homenagear Brizola – tiveram a oportunidade de ouvir as palavras de Trajano Ribeiro, um dos fundadores do PDT e ex-integrante do secretariado de Brizola, que fez uma análise atualíssima dos movimentos de rua que vem ocorrendo no Brasil.
Confiram a íntegra da fala de Trajano Ribeiro, gravada e transcrita por Apio Gomes:
“Que bom que vieram tantos para a missa do companheiro Brizola. Queria saudar todos os companheiros.
“O país vive um momento diferente. E, nós, sempre nessas ocasiões, nos perguntamos “o que pensaria, e o que diria o nosso líder Brizola?”.
“E, como não temos uma resposta cabal, nos damos conta de quanta falta ele nos faz para interpretar e enfrentar esses momentos – eu não diria de instabilidade, mas momentos de perplexidade.
“Há homens que nascem com uma chama da justiça. Felizmente, o nosso Partido foi fundado e reuniu os melhores destes homens.
“Brizola é o mais contemporâneo, o mais recente e talvez o mais lutador de todos eles. Ele não admitia a injustiça com o nosso povo. Ele dedicou a vida inteira dele a combater a desigualdade, a discriminação, a injustiça, a exclusão; e, principalmente, a defender o direito de cada criança brasileira ser um cidadão pleno, no exercício de seus direitos, no desenvolvimento das suas capacidades.
“Hoje, com este quadro que o país vive, talvez Brizola usasse uma expressão que ele adotava muito em situações semelhantes, que reflete aquela situação dos tropeiros que vão levando a tropa; e que, quando o sol cai, acampam, fazem uma fogueira e põem uma chaleira para esquentar água para o chimarrão; de repente, vai lá um dos tropeiros e tenta encher a cuia, mas não sai água da chaleira; aí – o que é… o que não é… –, abrem a chaleira: um outro tropeiro, inadvertidamente, colocou uma batata para cozinhar na chaleira. Então, Brizola dizia: “Tem batata nesta chaleira!…”.
“Eu advertiria os companheiros, acho que fielmente interpretando o que ele pensaria. E ouso fazer isto, pelos anos de convívio que tive com ele. Isto que está acontecendo aí é o renascimento das ruas, é a mobilização da nossa juventude, por tanto tempo apática. Mas – cuidado! – porque pode ter uma batata nessa chaleira.
“Preocupa-me muito um movimento que não tem lideranças; preocupa-me muito um movimento que não tem programa, não tem, não tem plataforma, não tem palavra de ordem; e que, na ausência destas coisas, emite, na voz de milhares e milhares, palavrões e outras frases que não têm uma utilidade para o nosso povo.
“Mas isso não deve ser ignorado.
“Mas precisa – principalmente nós, que temos a responsabilidade histórica de levar o pensamento de Vargas, de Jango e de Leonel Brizola –, exige de nós uma profunda reflexão.
“Eu vou pedir ao companheiro Carlos Lupi, o nosso grande presidente, que convoque o Partido para uma profunda reflexão sobre o que está acontecendo. Porque não me venham dizer que os partidos não existem mais, porque a sociedade não pode sobreviver, no seu estágio atual de desenvolvimento, sem os partidos.
“O que houve foi um processo – que a própria estrutura institucional do país provocou – de esvaziamento dos partidos; de esvaziamento dos programas dos partidos, em benefício dos indivíduos que, eventualmente, representam os partidos.
“Então, nós temos obrigação de refletir; e temos obrigação de dizer ao nosso povo o que nós achamos se seja a interpretação correta, e o rumo correto a seguir.
“Isto seria o que o companheiro Brizola faria: convocaria o Partido e iniciaria uma ampla discussão; sempre preocupado com eventual utilização do idealismo da nossa juventude para fins contrários à democracia e contrários aos interesses do nosso povo.
“Por isto, companheiros, rezamos hoje aqui, debaixo deste teto daqueles que representam aqueles a quem o nosso Partido dedica um carinho especial – que são os negros brasileiros, que forjaram grande parte desta nação; e que são responsáveis, entre outras coisas, pela manutenção, salvaguarda e garantia de uma cultura própria do povo brasileiro, que foi haurida, fundamentalmente, da influência do povo africano, que veio aqui doar seu sangue, o seu suor.
“Muito obrigado”.

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